Recurso pode alterar cenário político da capital
Campo Grande, MS – O Tribunal Regional Eleitoral de Mato Grosso do Sul (TRE-MS) julga nesta terça-feira (20/05) a partir das 17h, um recurso que pode cassar os mandatos da prefeita de Campo Grande, Adriane Lopes (PP), e da vice-prefeita, Camilla Nascimento (Avante). A Ação de Investigação Judicial Eleitoral (AIJE) foi movida pelos partidos PDT e Democracia Cristã. O processo aponta captação ilícita de votos durante as eleições municipais de 2024.
A relatoria está sob responsabilidade do juiz Alexandre Antunes da Silva. A decisão pode ter caráter histórico, já que Campo Grande nunca registrou cassação de um chefe do Executivo municipal por esse motivo.
Ministério Público Eleitoral defende cassação com base em provas documentadas
O Ministério Público Eleitoral (MPE), representado pelo procurador Luiz Gustavo Mantovani, emitiu parecer favorável à cassação. O órgão argumenta que há “provas robustas” de irregularidades. Entre os elementos anexados ao processo, estão vídeos, depoimentos e comprovantes de transferências bancárias via PIX. Segundo o MPE, os registros indicam distribuição de valores em troca de votos.
No bairro Aero Rancho, a denúncia aponta que cerca de 200 motoristas teriam recebido R$ 100 para circular com veículos adesivados com propaganda de Adriane Lopes. No Parque dos Laranjais, testemunhas relataram reuniões eleitorais nas quais eleitores também teriam recebido R$ 100 em espécie.
Liderança comunitária aponta repasse por assessor da prefeitura
Sebastião Martins Vieira, conhecido como Tião da Horta, declarou ter recebido R$ 2 mil de um assessor identificado como “Darci”, para distribuir entre moradores do bairro Caiobá. Os autos da ação incluem comprovantes de PIX vinculados a assessores do gabinete da prefeitura.
A defesa da prefeita Adriane Lopes nega a prática de compra de votos por parte da titular do Executivo. Os advogados afirmam que Adriane não autorizou nem tinha conhecimento das ações descritas, atribuindo responsabilidade a terceiros. “As pessoas que cometeram os atos devem ser punidas, não a prefeita, que foi apenas beneficiada indiretamente”, alegou a defesa ao site O Jacaré.
Ministério Público aponta coordenação de campanha como elo entre gestão e irregularidades
O Ministério Público contesta a tese de desconhecimento. O parecer do órgão menciona a “anuência indireta” de Adriane Lopes, e cita vídeos com coordenadores de campanha, como o diretor da UPA Santa Mônica, conhecido como “Dinho”, organizando eventos eleitorais em nome da prefeita.
A gestão da prefeita enfrenta um período de baixa aprovação popular. A pesquisa realizada pelo Instituto Ranking Brasil Inteligência, divulgada em abril de 2025, indicou que 55% dos entrevistados avaliam a administração como “ruim ou péssima”. As críticas se concentram em problemas de infraestrutura urbana, no sistema de saúde pública e no déficit de R$ 13 milhões da Santa Casa.
Movimentos populares e possível consequência jurídica
Movimentos civis organizados, como o grupo “Fora Adriane”, já promoveram manifestações contra a atual gestão. Em uma ação recente, distribuíram 1,2 mil adesivos em defesa do impeachment no centro da cidade, conforme noticiado pelo site O Jacaré.
Se o TRE-MS confirmar a cassação, Adriane Lopes e Camilla Nascimento perderão os mandatos e poderão ficar inelegíveis por oito anos, conforme previsto na Lei 9.504/97 e na Lei Complementar 64/90. A decisão poderá levar à convocação de novas eleições, embora a defesa da chapa possa recorrer ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o que deve prolongar a disputa judicial.